Setembro amarelo é o mês de combate e prevenção ao suicídio, um tema que ainda é tabu, embora tenha um grande número de mortes por isso. Claro que esse assunto não deve ser abordado e lembrado apenas no mês de setembro, pois vivemos os doze meses do ano, e isso ocorre durante esses 365 dias.
O setembro amarelo é um mês simbólico, apenas, para falarmos disso, marcarmos que é importante estar atento à vida, às pessoas que estão à nossa volta e a nós mesmos. É tempo para pensar ainda mais além, como a nossa sociedade, a realidade em que vivemos contribui para que haja tantos casos de suicídio por ano? Qual nossa função nisso?
Mais do que falar sobre transtornos mentais, doenças e psicodiagnósticos, devemos ter um olhar crítico em relação ao meio que vivemos e como contribuímos para que esses infortúnios aconteçam. Setembro amarelo é mês de lembrar nossa responsabilidade enquanto pessoa se relacionando com outras pessoas.
Como temos nos relacionado? Será que estamos atentos aos valores que estão sendo passados para as pessoas e para as gerações que estão nascendo? Qual sociedade queremos construir para vivermos? Como investimos em políticas públicas para prevenir que isso aconteça? De que adianta falarmos sobre o setembro amarelo, que as pessoas não precisam estar sozinhas, se nem trabalho e condições básicas de saúde são garantidas à elas?
São perguntas que não tem necessariamente uma única resposta, são complexas, ruins de ouvir, mas importantes de se pensar e agir. Claro que não estou generalizando, existem casos nos quais as pessoas não tem nenhum desses sofrimentos antropológicos, dificuldades para garantir a própria existência, tem condições de saúde garantidas. Mas por decorrência de outros sofrimentos acabam por cercear a própria vida, num ato de aliviar a dor que as consome.
Mas ainda assim, é importante pensar em como estamos promovendo saúde, e quando falo de saúde, quero dizer no sentido completo. Segundo a OMS, saúde é bem estar físico, mental e social, não apenas ausência de doenças. Será que estamos, enquanto sociedade, garantindo isso?
Setembro amarelo, mês de lembrar sobre nossa existência e qual valor damos à vida. Ou melhor, qual valor damos para a vida de quem, de quais pessoas. Como entendemos o que é ser um ser humano, quais valores estão em jogo? Em meio a tanta competitividade, busca por mais e mais consumo, produtividade, cada vez mais cobrança por ser um bom profissional etc. O que é nossa vida? Como entendemos a particularidade de cada pessoa?
Estamos nos olhando? Estamos em contato com o que sentimos? Setembro amarelo, também pode ser a oportunidade de lembrarmos que somos gente, que sentimos, afetamos e somos afetados pelo mundo. É importante perceber como está sendo esse contato, o que está nos incomodando, o que queremos mudar. Onde está nosso desejo? Para onde nosso coração pulsa, que vida estamos levando?
Mais do que isso, esse mês de setembro amarelo, além de entrar em contato consigo e com os afetos, é uma oportunidade para repensar como estão nossas relações, como está sendo o contato com o Outro, com essa alteridade, esses seres com quem convivemos, se estamos tendo uma convivência saudável. Essa é uma data para pensar a vida, para perceber que mudanças são possíveis e muitas vezes benéficas. Ocasião para lembrar que realmente não precisamos estar sozinhos, somos seres sociáveis, é importante ter uma rede de pessoas acolhedoras à nossa volta e lutar pela garantia de direito de todos, pois somos todos dotados de vida, e toda vida deve ter o mesmo nível de importância.