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Psicóloga Amanda Linhares

Filme Soul

 

Algumas lições do filme Soul

Que o filme Soul fala sobre o ‘propósito’ da vida é indiscutível. Durante todo o longa-metragem o protagonista corre em direção a isso que ele acredita ser seu propósito maior. O que fica implícito, e que eu acho que é a joia desse filme, é o preço que ele paga nessa busca. Perceba que nem estou questionando de onde ele tirou essa ideia fixa- mas sim o que ele faz a partir disso. 

 

É um tal de corre pra lá e pra cá até fazer tudo se ajustar e ele poder, finalmente, ser “feliz para sempre”. Chega a dar ansiedade em ver o quão acelerado ele fica em busca disso. Ele vive uma vida sem muitas emoções, um desânimo quase total, pois tudo o que ele faz não é o suficiente para garantir essa alegria. Não percebe o mundo a sua volta, fica focado em chegar no objetivo. Deseja tocar em uma banda e ser músico, e aí então, chegará ao ápice da alegria. 

 

O que acontece quando o “felizes para sempre” chega?

 

Quando consegue a vaga na banda, fica tão alegre que… quase morre. De uma forma bem lúdica, o filme mostra ele observando e vivendo sua vida em estado de coma, com sua alma habitando o corpo de um gato. Nesse processo ele vai se dando conta daquilo tudo que ele não percebe quando está obcecado em busca desse propósito. O interessante é assistir o espanto dele ao ver outra alma vivendo em seu corpo e descobrindo o mundo. Desde os prazeres mais simples até as coisas complexas. Aí ele percebe o quão alienado da sua própria vida ele fica nessa busca da felicidade, no seu futuro. 

 

Aos poucos ele vai se dando conta de tudo o que ele perde nessa corrida incessante. As relações quase inexistentes sem sua atenção, o prazer de caminhar, de comer o que tem vontade, de tocar piano etc. O quanto ele se agarrou nesse conceito de alegria, deixando para traz tudo o que o momento presente proporciona. De tanta ansiedade por viver no futuro, ele evita o único tempo real, o presente. Ou seja, interrompe todos seus desejos, pois já nem os percebe mais, vive no piloto automático, e quando chega ao sonhado momento da felicidade, fica frustrado. Acha aquilo menos interessante do que havia pensado. 

 

O quanto fazemos isso com nós mesmos? Sonhamos com um futuro que ainda nem existe, adiamos nossas realizações e alegrias, esperamos o momento perfeito para agir. Tudo isso a troco de que? Há quem diga que somos assim por conta do capitalismo, concordo. Mas até que ponto compramos essa ideia e até que ponto ela reforça um movimento nosso de evitar se relacionar e viver?

 

Sempre em busca de um ideal, “quando estiver na faculdade serei feliz”. “Quando casar e ter minha casa serei feliz”. “Quando conseguir aquele emprego serei feliz”, e por aí vai. Mas quem muito se acostuma a esperar a felicidade, não conseguirá senti-la, pois está sempre esperando e planejando o próximo passo. Acredito que o filme Soul mostra bem a busca desse propósito da vida e o que decorre disso, a mensagem é simples e clara. 

Não, esse não é um texto de auto ajuda ou motivacional. Tem momentos de vida extremamente doloridos onde esperar ação de uma pessoa em vulnerabilidade é mais uma violência. Esse é um texto de reflexão referente às nossas estratégias para adiar o viver. O modo de se esconder atrás de uma espera incessante e evitar a realização do nosso desejo, seja qual for o motivo que nos leve a isso.

 

A vida é uma série de agoras, e é neste momento que podemos viver algo, é neste momento que podemos viver nossas pequenas (grandes) alegrias. O que você quer fazer agora?

Trailer do filme: aqui