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Psicóloga Amanda Linhares

Auto Sabotagem                                                Auto Sabotagem

         

Auto Sabotagem: O ciclo

 

Auto Sabotagem é o ato de nos atrapalharmos, prejudicarmos nosso desempenho e realização de nossas tarefas e/ou relações. Parece estranho pensar que podemos fazer isso com nós mesmos, em tese, deveríamos ser os primeiros a buscar o que há de melhor para garantir nosso bem estar, mas, por vezes, podemos fazer o contrário. Não há uma explicação única para o por quê disso acontecer, mas há alguns pontos que podem ser observados, trazendo a tona quando isso acontece, tornando esse ato consciente para que possamos ter a possibilidade de mudarmos a nós mesmos. Há alguns (não apenas estes) atos em que podemos perceber esse movimento de Auto Sabotagem:

  • Dificuldade em dizer NÃO: Esse é um assunto recorrente na clínica, o medo de dizer não e magoar o colega, o medo de ser mal visto e não aceito. Nós enquanto seres humanos vivemos em conjunto, em sociedade, e a aceitação em um grupo é muito importante para nossa constituição enquanto sujeito. O grau de importância disso vai variar de pessoa para pessoa. Por vezes, a preocupação em ser aceito e se sentir pertencente a um grupo é tão alta, ao ponto de a pessoa não conseguir dizer não. E com a repetição desse ato e a constante preocupação em não desagradar, a pessoa pode criar esse hábito e fazer auto sabotagem. Torna suas relações frágeis, pois sempre concorda com tudo e com todos, nunca expressando o que realmente pensa. Como exemplo, o ambiente de trabalho é um local em que podemos perceber isso, com medo de desagradar o colega, a pessoa acaba dizendo sim a todos os pedidos, realizando as tarefas de outras pessoas e atrasando suas próprias entregas. É importante fazer uma auto análise sobre a relevância dada à aceitação alheia e como isso afeta seu dia a dia, assim é possível ter uma visão mais ampla sobre essa característica para enfim poder formular mudanças.  
  • Vitimização: Outra situação é quando a pessoa se enxerga como vítima das situações e com isso acaba paralisando seus atos, permanecendo no mesmo lugar. É uma tendência a ‘terceirizar a responsabilidade’, ou seja, responsabilizar o outro por desejos e planos próprios. É delegar para um terceiro, para uma outra pessoa, a responsabilidade por uma ação, ou falta de ação sua. Por exemplo: Gostaria de ser promovido, estou a muito tempo nesta função, mas não sou promovido porque o mercado está em crise, as pessoas não gostam de mim, não sou bom no que faço, sou incompreendido por todos etc. Por vezes, isso pode até ser verdade (em partes), mas será que é só isso que acontece? Qual nossa influência sobre essas coisas? É importante estarmos atentos aos nossos atos e sermos responsáveis por eles, ou pela falta deles, pois quando não o fazemos e deixamos isso à cargo de outras pessoas, estamos perdendo nossa autonomia. Mais do que isso, estamos nos mantendo no mesmo lugar, na nossa zona de conforto, que é algo familiar, um local que temos certo ‘controle’, apesar de ser desconfortável, na maioria das vezes. Não se trata de não se sentir triste, não falar sobre seus sentimentos e puxar todas as responsabilidades para si, existem coisas que são do outro. Mas é estar atento a esse possível movimento de vitimização, de apenas reclamar e não agir, terceirizar a responsabilidade sobre a própria vida. 
  • Medo do fracasso e medo de errar: Essa é uma preocupação comum de ser ouvida, o medo de estar fazendo algo errado e por isso ser prejudicado ou estar prejudicando os outros. Atrelado a isso pode estar presente um alto nível de auto cobrança, necessidade de fazer tudo dar certo e dar o melhor de si em todas as tarefas ou relações. Ao agirmos guiados por isso, podemos perder nossa espontaneidade, além de não nos arriscarmos quando necessário, permanecendo no mesmo lugar. Dessa forma podemos estar nos enganando, colocando diversos defeitos nas coisas para não fazermos, quando na verdade apenas não fazemos por medo de não dar certo. Isso pode estar conectado com a vitimização, pois permanecendo no mesmo lugar com medo de errar podemos acabar culpando outras pessoas e nos colocarmos em posição de vítima. Outra consequência, ou influência nisso pode ser a procrastinação.  
  • Procrastinar decisões ou tarefas: Assunto constante, a procrastinação é quando adiamos o que temos para fazer, a famosa frase “não faça hoje o que você pode fazer amanhã”. É importante que nós saibamos respeitar nossos limites e ter tempo livre, mas há algumas ações e tarefas que precisam ser feitas, ficar constantemente adiando pode ser um problema. Mas afinal de contas, por que faríamos algo para nos prejudicar? Bom, ao ficar procrastinando a realização de uma tarefa ou uma tomada de decisão, nós nos mantemos na mesma posição, na nossa zona de conforto que já é conhecida, que já sabemos como “controlar”. É interessante pensar o motivo de querermos estar em um lugar que já é conhecido, por que não conhecer e fazer algo novo? Essas são questões que requerem reflexão e autoconhecimento, mas são importantes de ser pensadas, pois se isso é algo corriqueiro, pode ser uma estratégia de defesa para manter-se nesse local ‘seguro’, uma estratégia de auto sabotagem que faz com que não possamos evoluir. Isso pode estar diretamente relacionado ao alto nível de auto cobrança, o medo de errar, o medo de dizer não, todos pontos listados acima e/ou outros fatores. 

         

          Por isso, ter conhecimento de si é algo importante, pois através dessa prática de reflexão e olhar para si mesmo, podemos vislumbrar nossos atos e afetos de modo mais consciente, assim podemos entender nossos hábitos e modo de funcionamento. A partir disso conseguimos nos lançar de forma mais consciente em novos desafios e relações, sendo protagonistas da nossa história.