Você consegue acolher seus afetos? Antes de mais nada, os afetos aqui citados não são apenas afetos de amor, os afetos aqui ditos são tudo aquilo que nos afeta, que nos toca. Sejam sensações boas ou ruins, é aquilo que nos mobiliza de alguma forma. Você costuma olhar para si e para o que sente? Dá espaço para que essa coisa estranha (afeto) possa se tornar figura (algo evidente)?
Vivemos em um mundo capitalista, tão corrido, tão dedicado ao trabalho, à produtividade, ao que temos de bens materiais e como podemos fazer para conquistar mais e mais, que viver os afetos se torna quase uma ‘perda de tempo’.
Enquanto que, na verdade, estamos sendo afetados o tempo todo, somos constantemente capturados por muitas coisas ao nosso redor, diversas percepções, imagens, cheiros etc. E tudo isso pode evocar afetos que estão adormecidos, como se fossem histórias do nosso passado sem uma ‘finalização’. Algo que guardamos bem escondidinho, por alguma razão, e que quer revelar-se para que possa ser visto e trabalhado.
Pode parecer complexo, mas nós somos afetos. Somos aquilo que está trancado querendo se dizer, aquilo que vem e não conseguimos segurar, seja um choro ao ver alguma cena, um grito que escapa, o suor na mão, a tremedeira nas pernas, o tremor na voz, o frio na barriga, e por aí vai.
Você percebe o que seu corpo te diz? Quais desejos ele quer realizar? Os desejos aqui são considerados tudo aquilo que queremos fazer, desde tomar água até algo mais complexo. Em meio à correria caótica do dia a dia você consegue se perceber ou vai passando os dias como se eles fossem eternos? Vivemos a vida com tanta pressa que até parece que queremos chegar logo ao fim. Isso não faz sentido! Esquecemos a melhor parte, que é VIVER cada dia, cada coisa que fazemos, curtir o fluxo que é existir.
Nesse processo de adormecimento do sentir não percebemos mais o que queremos, nos conduzimos ao que os outros querem e esperam de nós, aí mora o sofrimento. Mas, será possível fazer só o que se deseja? Bom, não. Mas por que não flexibilizar isso? Quem disse que precisamos ter um emprego ótimo, casar e ter filhos, tudo isso antes dos 30 anos? E se nosso desejo for outro? Bom, isso descobrimos vivendo a vida, entrando em contato conosco mesmos, vendo o que nosso corpo nos diz, quais desejos nós reprimimos, o que podemos fazer para realizá-los etc.
O espaço terapêutico é um ambiente no qual podemos entrar em contato com isso, ver o que surge, o que estava adormecido, quais consequências esse adormecimento nos trouxe e o que podemos fazer para mudar isso. Claro, não é algo tão palpável e fácil assim, a terapia pode ser um lugar difícil de estar em alguns momentos. Mas ela possibilita o olhar para esses afetos, esses estranhos que querem se dizer, se mostrar, para que algo novo possa surgir dali e as dificuldades possam diminuir, nem que seja um pouco.